o canteiro como espaço sensível
the construction site as sensible space
Sapatas, fundações, armações, andaimes, formas, fôrmas, pilares, vigas, lajes...? Quantas camadas para levantar uma arquitetura? E quantas opções de ladrilhos, pedras, papéis de parede? Quantas cama-das sobre camadas?Quantos ciclos?
Obra, reforma, manutenção, demolição. Começo, meio e fim se confundem, histórias e ocupações se misturam. Quatro paredes que uma vez configuraram uma sala podem, agora, representar
um enorme quarto. Ou, então, com uma demolição de uma parede, esse mesmo lugar se torna recepção de um prédio ou hotel.
Quanto dura a vida de uma arquitetura? Temos recursos in(finitos)?
Entre as passagens de funções - as transições - surgem os canteiros de obras. Estes sim tem sua data de validade - quase sempre. Esse espaço que foi previamente desenhado conforme os desenhos dos arquitetos, já muito definido, onde são definidos os acabamentos, revestimentos, louças e metais, mobiliários, objetos de decoração... Bem, são todos ainda meros desenhos ou planilhas em um computador. Esse espaço de tempo poderia ser, como já foi num passado distante, espaço de criação. Como uma vez já foi momento de troca entre arquiteto e construtor. Desenho no canteiro, ainda cheio de possibilidades, onde os vãos pode representar futuras janelas ou, então, uma mera conexão entre espaços. A arquitetura pode ser tudo - as paredes podem ser brancas ou azuis, verdes, amarelas. O vazio pode ser só um vazio ou ser preenchido de ripados de madeira ou uma esquadria metálica.
Footings, foundations, frames, scaffolding, forms, molds, pillars, beams, slabs...? How many layers are needed to build an architecture? And how many options for tiles, stones, wallpapers? How many layers upon layers? How many cycles?
Construction, renovation, maintenance, demolition. Beginning, middle and end are all confused, stories and occupations are mixed up. Four walls that once formed a room can now represent a huge bedroom. Or, with the demolition of a wall, that same place becomes the reception area of a building or hotel.
How long does the life of an architecture last? Do we have in(finite) resources?
Amidst the handovers of functions - the transitions - construction sites emerge. These do have an expiration date - almost always. This space, which was previously designed according to the architects' drawings, is already very well defined, where the finishes, coverings, ceramics and metals, furniture, decorative objects are defined... Well, they are all still just drawings or spreadsheets on a computer. This space of time could be, as it was in the distant past, a space for creation. As it once was a moment of exchange between architect and builder. A drawing on the construction site, still full of possibilities, where the gaps can represent future windows or, then, a mere connection between spaces. Architecture can be anything - the walls can be white or blue, green, yellow. The void can be just a void or filled with wooden slats or a metal frame.

















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Às vezes tenho a impressão de que as estruturas são mais criativas que nós mesmos. Os andaimes são livres para apenas sustentar, servir à sua função, como bem entendem. Um ‘’véu de noiva’’ tem o poder e a audácia de se deixar levar pelo vento, exibindo o seu movimento bem na frente da fachada, dançando conforme a música toca. Eles estão sujeitos às imperfeições e, portanto, à espontaneidade da vida.
E depois de tudo isso - tem-se uma casa? É a matéria que faz o conforto, um lar? Será disso tudo um lugar memorável? O espaço que guarda as memórias?
São pessoas que eu nunca conheci que levantaram a minha casa.
Sometimes I have the impression that structures are more creative than we are. Scaffolding is free to simply support, to serve its function, as it sees fit. A “wedding veil” has the power and audacity to let itself be carried away by the wind, displaying its movement right in front of the façade, dancing to the music. They are subject to imperfections and, therefore, to the spontaneity of life.
And after all this - do you have a house? Is it the material that makes the comfort, the home? Is all this a memorable place? The space that holds the memories?
The people who built my house are people I never met.